O vínculo
A consciência nos vincula ao grupo que é importante para nossa sobrevivência, sejam quais forem as condições que ele nos imponha. Ela não está acima desse grupo, nem acima de sua fé ou superstição. Está a serviço dele.
Assim como uma árvore não determina onde cresce, e se desenvolve de forma diferente em campo aberto ou no bosque, no vale protegido ou na montanha exposta, assim também uma criança se submete ao grupo de origem sem questionar, e adere a ele com uma força e uma persistência só comparáveis a um caráter. A criança experimenta esse vínculo como amor e felicidade, quer ela possa florescer, quer tenha de murchar no grupo.
A consciência reage a tudo que promova ou ameace o vínculo. Dessa maneira, temos boa consciência quando agimos de uma tal forma que nos assegure de ainda pertencer ao grupo. E temos má consciência quando nos desviamos das condições impostas pelo grupo de tal forma que receamos ter perdido, em parte ou no todo, o direito de pertencer-lhe.
Contudo, ambos os lados da consciência servem a um propósito único.
No centro sentimos leveza, Bert Hellinger, 2006.
Começo o texto sobre o Direito de Pertencer com esse maravilhoso trecho do livro do Bert, falando sobre o vínculo. É com essa força que nos vincula ao nosso sistema familiar, que temos ligados à nós e ao nosso inconsciente o direito de pertencer.
Muitas vezes, por arrogância moral, colocamos em uma “caixinha” de certo ou errado as situações. Com isso acabamos por julgar pessoas e julgar acontecimentos. Daí, com esse olhar de quem sabe tudo, inclusive o que é certo e errado, excluímos de nosso sistema algo que dói ou incomoda olhar.
Um parente portador de dependência química. Um filho fora do casamento. Um ex-namorado que não tem mais espaço na nossa vida atual.
Esses são alguns exemplos. Olhar para essas situações dói, então a gente prefere esquecer e excluir. Só que lembram daquele post que eu falo que a exclusão viola a Ordem do Direito de Pertencer? Está bem aqui.
Violando a Ordem do Direito de Pertencer
Quando a gente viola uma das ordens, o sistema familiar tenta se reequilibrar de alguma maneira. E quando a ordem que foi violada é a do Direito de Pertencer, o que normalmente acontece é que algum familiar se identifica com quem foi excluído e passa a representar essa pessoa no sistema, trazendo-a de volta, porém em um movimento de desordem.
Em alguns casos podemos ver que determinada pessoa apresenta comportamentos que não são dela. Ela está trazendo para o sistema algo que é necessário que as pessoas olhem. E com esse olhar, que possam curar e incluir novamente no sistema familiar o que havia sido excluído.
Um exemplo que eu já presenciei em uma constelação familiar, foi de uma pessoa portadora de dependência química. Algumas vezes, toda a hierarquia familiar (filho, pai, avô, bisavô e por aí vai…) apresenta a doença. Quando olhamos para esse sistema, vemos que um ancestral distante foi excluído e, por conta disso, todos os outros membros da família buscam incluí-lo, para que ele, o primeiro, seja olhado e trazido de volta ao sistema familiar – e eles faziam esse movimento através da dependência química.
Por isso que é tão importante percebermos o quanto estamos vinculados e quanto somos fiéis à consciência do nosso sistema, que aprendemos desde muito cedo, ainda crianças. Esse vínculo tem uma força muito grande, que faz com que façamos de tudo para pertencer. Mesmo que tenhamos que exercer papel de outra pessoa, trazendo à tona situações que nossa família precisa ver.